indicação de disco "ACELLERATE" (REM)2008: A FÓRMULA QUE NUNCA CANSA


ACELLERATE (REM): A FÓRMULA QUE NUNCA CANSA

Acellerate foi um dos grandes lançamentos de 2008. Não porque é REM. Mas porque muitas das coisas que fizeram história e consagraram esta maravilhosa banda dos anos 80/90 permanece com o mesmo viço e, porque não, virilidade. As guitarras estão fazendo o mesmo papel vibrante com a bateria marcada, rapidez e riffs inteligentes e bem desenhados, costurada pelo ritmo e swing do contra baixo de Mills. A bateria bem swigada, que ora pende ao pós-punk, com aquela rapidez insinuante que o grupo possui e ora à batida quebrada do pop-rock e cowntry rock. O refrão é o ponto forte de várias canções, como o caso da poderosa “Living well the best revenge”; a clareza com que esta canção surge lembra Rush e, pasmem, REM. As bases sendo construídas e guitarra solo desenhando uma harmonia dentro de uma barulheira controlada. Show. Outro destaque do disco é “supernatual superserious”. A voz de Mike Stipe está plena e entrosada com a proposta melódica da canção. O arrebatador refrão em coral e os versos principais demarcam e constroem um mais puro sangue rock and roll. As músicas estão curtas, traduzindo o espírito e a proposta de um disco “acelerado” e “crescente”. É o caso de “hollow man” e “houston”; esta última é uma levada lenta com um riff de teclado e guitarra, que incorpora melodia e perfaz uma insinuante tendência texana, marca cabal das canções. “Acellerate” é um dos destaques. Com a levada rock and roll da bateria, a guitarra constrói uma base sólida de noise, enquanto o baixo empurra a música rumo à rapidez e batida característica dos anos 80. A semelhança com Placebo inaugura a proximidade de REM com uma espécie de pós-punk-eletro, pela quantidade de peso e distorção da guitarra. O vocal segue a tendência progressiva e angustiada deste “rap” (falar) crescente. “Acellerate” merece ser a faixa título, mesmo que os singles sejam a faixa 1 e 3 do disco, respectivamente “Living well the best revenge” e “supernatual superserious”. A síntese da crueza do disco, de suas pontadas, farpas e usinagem de punk-heavy está na canção “horse to water”; o prelúdio simples, o refrão básico e eficiente; a guitarra soa aberta, com a linha do contrabaixo de Mike Mills praticamente destruindo. A crítica (Screamyell) afirma que “Acellerate” é um grande disco e um dos melhores discos do REM. Ele está na linha tênue entre os grandes sucessos de produção e vendagem, como “Perfect Circle” e discos cult, como “Murmur”. Isto é por si só um forte indício de aceitação e confiança, incluindo aí a revitalização de um gênero. Na faixa “Until the day is done” REM revisita um folk/cowtry demarcado pela liturgia da voz harmônica de Mike. Uma bela balada, sem perturbação, mas com aquela sensação nostálgica e brilhante. Excelente faixa, que discute a guerra e suas conseqüências. Em “Mr Richards” as referências são inevitáves; até porque a cultura é uma teia de referências necessárias e prováveis, como forma de auto-legitimação e auto-conhecimento, tal qual a construção de um universo ficcional de ícones, conceitos e valores. A primeira referência é a iconoclastia em Bob Dylan, nesta paráfrase homônima do referido músico; por outro lado, os níveis vocais, a melodia e o andamento tem contato forte com Rush, principalmente em “Test for Echo”. A indicação deste disco é inevitável. Primeiro, pois trata-se de um grande trabalho, bem construindo e arrebatador. Segundo, pois traduz a ansiedade da banda em produzir algo de qualidade e optar pelo peso como condutor de sua criatividade.

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